quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013





Porque já não levam só os outros, porque nos querem levar até os desejos, os sonhos dos nossos filhos, o repouso dos nossas avós, o pão, o tecto, a educação, a saúde, a paz e a liberdade.
Se me matam a esperança serei toda feita de fúria, e de fúria incendiada descerei à praça para resgatar a vida, a nossa vida.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Há um arame invisível por baixo dos nossos pés. Natalie Merchant - The Dancing Bear





Lembra-te da tua condição cigana!
E dança, dança porra, dança até os pés sangrarem!
O arame invisível por baixo dos nossos pés
O acordeão enlouquecido
o trompete desafinado
o rufar do tambor
o flautim e o batalhão de ratos.
dança, já te disse, dança!

domingo, 17 de fevereiro de 2013





- Vou dizer-te a verdade.
- Ah sim? Que pretensão.
- Talvez não seja A VERDADE, mas é uma verdade e eu tenho que a dizer.
- E por tu precisares de dizer uma coisa, a que chamas verdade, supões que eu terei de a escutar e receber com alguma cerimónia, repito. que pretensão.
- Deixa-te de jogos florais, esta verdade é pelo menos a nossa verdade. Trata-se de nós.
- E quem te comprovou que a tua história é idêntica à minha história?
- Por ser uma história vivida por nós, no mesmo espaço, no mesmo tempo...
- Podem ser apenas histórias simultâneas.
- Então, ouve a minha versão, pode ser?
- Lamento, não tenho interesse, não possuis capacidades narrativas para captares a minha atenção.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Sou feita de chão. "If it falls it falls" David Byrne, William Oldha...




Se me julgas feita de aço digo-te:
Sou feita de chão.
Tenho terra nos joelhos e as mãos exibem marcas.
tempo nos olhos, e um sorriso lento, hesitante.
arranhões de miúda que ainda não sararam e cabelos já velhos de amanhã.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Jeff Buckley - We all fall in love sometimes





O meu amor é vadio.
Não tem casa, nem cuidado, nem lençol
sorri às pedras da calçada e segue viagem
um amor vadio não se abriga, nem sabe esconder-se
enluado adormece sobre o rio
para amanhecer na foz, agitado e solar.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

o que quer dizer "ter os alunos sob controlo"?



A pergunta foi feita perante uma plateia de professores, uma linha imaginária separaria aqueles que responderiam sim daqueles que responderiam não.
Saltei para o lado do não. A coisa ficou a moer por dentro mas assumi a escolha.
Tenho os meus alunos sob controlo, sim ou não?
Não, jamais, nem pensar.
A ideia de ter alguém sob controlo adoece-me, saltam-me imagens de mãos por dentro do cérebro a remexerem sem pudor, fios, marionetas e amestramentos.
Um professor deve ter a sua aula sob controlo, e não os seus alunos. Ter uma aula sob controlo implica ter um planeamento mas saber incorporar a ruptura, reconhecer que onde existam pessoas existe caos, um caos que à distância pode até possuir a aparência tranquila e bela beleza semelhante aquela que um céu estrelado nos oferece, numa noite cristalina, mas sem esquecer que para lá da aparente tranquilidade, existe destruição, explosões, mortes, brilhos ofuscantes e ruído. Não quer isto dizer que defenda a ausência de normas, as normas promovem um relacionamento civilizado entre seres humanos, evitando o confronto permanente.
Daí até à presunção de ter os alunos controlados vai um longo caminho, cada aluno/a é um universo, e não o digo como corolário embelezador, na verdade um universo é algo igualmente belo e angustiante, é nesta dualidade que inscrevo a minha afirmação. Não, eu não tenho nada sob controlo, as particulas atómicas explodem sem o meu consentimento e isso não me preocupa, certos dias exaspera-me, noutros espanta-me.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

lembrei-me de te dizer (G. F. Händel, Piangerò la sorte mia - R. Invernizzi)


Num sobressalto, lembrei-me de te dizer.
Uma vez lançada, a palavra não volta a atracar.
Pode até descrever circulos mas permanecerá ao largo.
a sua reverberação sente-se no peito como uma pedra num rio adormecido.
agora que sabes, cuida dela até ao dia da pronunciação.