quinta-feira, 27 de junho de 2013

A súplica, o pedido e a exigência. (I'm Not Gonna Beg - Natalie Merchant)






Nas relações entre os seres humanos existem várias formas para cada um obter do outro aquilo que pretende.
Todos pretendem coisas de outros, sejam elas coisas materiais, ou de outra natureza.
A questão está em analisar a maneira como se alcançam essas pretensões.
"Hamlet" de Shakespeare, apresenta-nos a cisão profunda entre dois modos de obter aquilo que se quer, Hamlet, tal como o seu Pai, pertencem a um modo antigo de agir, um modo que defende o conflito aberto, a luta, e onde o vencedor é o melhor no campo de batalha, já Claudio, seu tio, defende a diplomacia ( ou a intriga e a conspiração) como método. Neste conflito de posturas podemos observar, em condensado, uma das grandes questões da civilização ocidental, substituir o conflito pela diplomacia, é aparentemente um salto qualitativo, enquanto um dependeria apenas da força bruta, o outro teria como recurso, a inteligência e a capacidade de criar estratégias. Mas a história não é um processo linear. Avança, recua, encaracola-se e por vezes retoma o seu passo.
Em tempo de confrontos, a súplica pode ser uma possibilidade de sobrevivência, nomeadamente quando a relação de forças entre o suplicante e o seu destinatário for uma relação de desequilíbrio. Num tempo de diplomacia, o pedido seria  a fórmula mágica que permitiria a realização da vontade das partes, o pedido, a negociação e a conciliação, este eixo apresenta-se como o mais satisfatório para as partes, mas se a diplomacia for a arte do engano, da traição e da intriga, então talvez seja tudo uma construção cénica, um gigantesco telão pintado representando uma bela frontaria, feito de pau e tela, se assim for, então estamos no final do baile de máscaras, revelam-se rostos horrendos, temporariamente escondidos.
 Se a história fosse cíclica, retomaríamos o tempo do confronto, força bruta versus força bruta, mas a história faz o seu caminho como as raízes das árvores,  desenvolve-se
onde encontra espaço propício, seja no esgoto ou entre as pedras.
 Se para alguns  é imprescindível exigir, outros estão disponíveis para suplicar, e poucos são os que acreditam na força da simplicidade do pedido.
Um mundo onde aumentam os suplicantes e explodem os exigentes mas no qual os governantes parecem alheados do eco das súplicas e das exigências, um mundo de onde desapareceu o pedido,  por ter perdido a sua dignidade semântica.
Muitos confrontos se adivinham mas também coros de súplicas ecoarão nas cidades onde os pedidos deixaram de ser escutados.





4 comentários:

  1. Se o coro de súplicas prevalecer, é sinal de que os humilhados da terra, perderam no confronto. É mau sinal...

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  2. Pois, é mesmo por aí que vai o meu pensamento, o silêncio amedrontado, a quebra de lealdade entre as pessoas, a morte da solidariedade, o desânimo da comunidade, são mesmo maus sinais.
    Obrigada por continuar a passar por aqui.

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  3. Não nos iludamos. O coro das súplicas irá num crescendo, só que não haverá quem lhes responda.

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  4. Só não sei se às súplicas se seguirá um rufar de tambores ou um total silêncio.

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