domingo, 8 de setembro de 2013

What's wrong with us?





Esta notícia http://www.theguardian.com/politics/2013/sep/06/uk-lowest-paid-classed-not-working-enough, remete para uma patologia social evidenciando a ideologia que enquadra e sustenta. a reforma que vem implementando a austeridade em golfadas.

Estamos perante um mundo onde não é culposo ser inexplicavelmente rico mas onde se torna perigoso ser explicitamente pobre.

Para compreender tudo o que está para além da notícia convém acrescentar alguns dados.


A desigualdade na distribuição da riqueza é um problema que julgávamos fazer parte do universo dos outros países, das américas latinas das africas em vias de desenvolvimento, mas não da civilizada europa, nem do farol  americano da democracia.
A realidade recente tem vindo a destapar as intenções e os caminhos de um mundo regulado pela ideia de lucro.
Quando o lucro governa, sem amo nem senhor, as almas insaciáveis, olvidam a  porção de humanidade que lhes permite absorver luz, e enganadas, como traças na noite, acorrem para a luz do metal brilhante sem cuidarem que assim encontrarão apenas a morte.
O deus lucro submete a beleza, subverte a ética, perverte a moral e destrói a empatia.
Na notícia acima citada existem várias falácias merecedoras de desmontagem. 
A ideia de que a um baixo rendimento corresponde um fraco desempenho, um esforço menor.
A questão resolvia-se com uma abordagem mais honesta, com perguntas que remetessem menos para a culpabilização de quem está em situação de pobreza e mais para a aferição da exigência de que a um trabalho correspondesse um salário que garantisse a dignidade de quem o aufere e a manutenção da sua família, foi para isso que se inventou a ideia do salário mínimo.
Talvez também fosse possível verificar se estas pessoas que vão ganhar a estrela dourada da pobreza por mérito próprio, trabalham, ou não, jornadas completas, e se caso não o façam se têm famílias para cuidar, menores a cargo ou ascendentes em situação de dependência.
Talvez fosse igualmente simples listar as empresas/instituições que contratam pessoas para lhes pagar abaixo do limiar aceitável, e a essas sim, marcá-las, a ferros se possível.
Além de tudo compreende-se que a intenção punitiva se vai reflectir não só numa estigmatização social, a classe das pessoas que não trabalham o suficiente, mas também no corte de apoios económicos e sociais a estas pessoas, e é aqui que reside a intenção directa, eliminar gastos com o estado social, transformando-os em acções moralizadoras que criem grupos/ classes de pessoas menos merecedoras de dignidade existencial.
Enquanto o coro se for virando contra os mais frágeis pairará a neblina sobre os mais fortes, transferindo as responsabilidades que deveriam ser-lhes imputadas por terem poderes decisórios, para aqueles sobre quem recaem as consequências dessas mesmas decisões.
A pobreza entre as pessoas que trabalham tem vindo a aumentar, o que deveria chocar estados, gentes e deuses, mas não, num passo de ilusionismo social, consegue criar-se uma ideia de que a culpa é individual e de que estas pessoas, ao invés de estarem a ser exploradas e a ganhar de menos, estão é a trabalhar pouco e por isso roubam os recursos públicos, através de esquemas reprováveis, e como tal merecem o castigo e tudo o que as mentes retorcidas lhes aprouver.
Estaremos mesmo todos a perder o sentido da justiça social? 
Será esta uma invenção?
Será um entrave ao progresso ?
Para muitos deveria ser uma ideia em extinção, como persiste é preciso exterminá-la antes que volte os olhos para a desigualdade na distribuição da riqueza quando se pretende mantê-los focados na igualdade com que se quer distribuir a pobreza.





3 comentários:

  1. Um texto excelente!
    O que há de errado em nós?
    A resposta é simples. Somos nós próprios!

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  2. Análise pragmática do desrespeito, da falta de humanidade, "valores" pelos quais se regem os senhores do mundo.

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