sexta-feira, 6 de junho de 2014
Reféns da chuva.
Não fora a chuva e teria perdido aquele pedaço de vida dos outros.
O carro parado, o trânsito cerrado, ou seria ao contrário.
O tempo parecia congelado, nada se movimentava.
Dentro do carro verde seguiam quatro pessoas.
Um homem conduzia, uma mulher ao seu lado, duas crianças no banco de trás.
O homem tamborilava no volante, a mulher soltava e prendia repetidas vezes o cabelo.
As crianças trocavam de lugar, parecia um jogo.
O homem roía as unhas, a mulher mordiscava uma maçã verde, as crianças guerreavam.
A chuva mantinha-nos a todos reféns de um tempo sem narrativa.
O homem acende um cigarro, as janelas do carro permanecem fechadas, as crianças batem no ombro do pai, a mulher vira a cara, no sentido contrário ao do homem e cerra os olhos com visível força.
Do lado de cá, no passeio, invade-me uma estúpida vontade de correr até aquele carro, abrir portas e deixar sair os sufocados. A convenção mantém a distância higiénica.
O homem abre a janela, as crianças esticam as mãos para fora do vidro, a mulher tapa a cara com as duas mãos.
Um autocarro avança sobre as poças e o sequestro acaba.
https://www.youtube.com/watch?v=2sZzJAxfD-4
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Há sequestros com finais felizes. Temo aqueles para os quais não há escapatória.
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