Raiava o dia quando lhe bateram à porta.
-Vimos confiscar as suas últimas palavras.
-Mas eu...
-Entregue-as de livre vontade.
-Mas... eu...
- Está a tornar as coisas mais difíceis, vamos ter que lhe tirar as palavras recorrendo à força. Colabore connosco.
- Mas...
Tinha sido um processo gradual. Primeiro começaram as falhas episódicas, depois ela própria tinha oferecido palavras ao vento, esperando vocábulos novos trazidos pelo sopro longínquo, mas a resposta chegava em forma de silvado sem contorno ou verbo.
E depois vieram apreender-lhe as primeiras palavras, dessa vez enrolou-as em papel de seda e entregou-as como se entregasse um filho, da segunda vez que vieram fazia sol mas já não tinha a palavra luz.
Depois desta última visita, tornou-se quase impossível contar o que lhe aconteceu.
Sem verbos, deixou se ser, restava-lhe estar. S
entou-se debaixo da velha pinheira mansa, alegrando-se em longos sorrisos e fechares de olhos, conhecendo na pele as transformações trazidas pelo vento, pelo sol, pela chuva e pela lua.
http://youtu.be/2XbNt5ahKPM
O verbo é o cofre que guarda a nossa humanidade.
ResponderEliminarA palavra apaga-se, o mundo diminui. Restamos simulacros.
Não sei se a palavra contém o mundo ou se o mundo contém a palavra.
EliminarQuando nos roubam as palavras resta-nos o silêncio e é por ele que nos vamos.
ResponderEliminarBoa semana
Caminhar por dentro do silêncio.
EliminarContrapor este ao ruído, até ressacralizar a palavra.
Boa semana.
A palavra faz falta à palavra. Calemos o silêncio que ensurdece.
ResponderEliminarBoa semana.
Boa Semana.
ResponderEliminarO silêncio é a gravidez da palavra, vida e não morte. O ruído ensurdece, o silêncio apazigua.