sexta-feira, 26 de abril de 2013

a felicidade, o depósito de gasolina e um fim



- Há uma morte boa!
- Duvido, se assim fosse todos a desejariam.
- Não é essa, é uma mais suave.
- Talvez seja uma absoluta novidade, mas isso de que falas é uma idiotice.
- Falava apenas de estar morto de um cansaço bom.
- Vês, se fosse realmente bom, jamais sentirias o cansaço.
- O corpo não suporta o mesmo que a alma, e por vezes desaba.
- Metáforas em hora de ponta. Olha o depósito está na reserva, paramos na bomba ou paramos mais à frente quando o carro deixar de andar?
- Acho que tenho um desconto da BP, pára agora.
- Caso não possuísses essa maravilha optarias pela segunda hipótese?
- Não, claro que não, mas assim aproveito.
- DE novo a cair nas idiotices, não aproveitas nada, és aproveitada.
- Ok, pode, ser, atesta e deixa-me no fim do mundo, pode ser?
- Lamento, não sei o caminho.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

sábado, 20 de abril de 2013

O desprezo e as estrelas. coisas de tempo.

http://www.youtube.com/watch?v=iCSts2M0Yvo




Há um tempo de desatenção, um tempo em que tudo parece ser efémero ou eterno, um tempo da vida a vermelho e negro.
Subitamente o negro devora o azul e o tempo corre lento, matizes cinza e longos aborrecimentos, dias que se repetem, raivas que se derretem na boca,  um tempo sem tempo, onde o tempo é um vocábulo vazio e a pressa um animal voraz.
Chegará, aguardo, um tempo onde o vermelho, o negro, o cinza, o azul, onde todos simplesmente estarão ali para serem contemplados, dias de atenção e um tempo maior que as horas.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

A estrada só acaba para aqueles que estancam., e estancar é uma opção tão válida como caminhar.

http://www.youtube.com/watch?v=KqX2rezctMI


De mansinho vamos desenhando no ar as bolhas com que queremos fazer uma casa.
São transparentes as nossas paredes mas os caminhos não se cruzam.
Vislumbra-mo-nos.
De mansinho vamos olhando a hera crescer e cobrir as nossas paredes transparentes.
Desconhecemo-nos.
De mansinho cruzamos a estrada, um caminhando, o outro parado.
Invisíveis.


sexta-feira, 12 de abril de 2013

A dor como vortex.






      Este não é um blogue confessional, no sentido tradicional do termo, aqui não narro as pequenas imensidões dos meus dias.
      Recentemente experimentei uma realidade a que não estava habituada, a dor, a dor como vortex sugador de toda a energia, a dor que nos faz desejar coisas próximas do abismo apenas para se alimentar.
     A dor impede olhar o outro, sentir o outro, escutar o outro, desejar o outro.
     Talvez o mundo seja governado por gente que padece de dores terríveis, talvez por isso, e só por isso,  estejam alheados, como se vivessem sob o efeito de morfina, e fossem incapazes de contemplar a simples existência do outro, só algo assim poderia explicar a incapacidade e a ausência de empatia, quem sente dores assim apenas se quer livrar delas, mesmo que a alma sucumba, mesmo que os outros deixem de existir.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Redundância atmosférica.

Ryuichi Sakamoto – The Wuthering Heights




Convocaste a tempestade.
Seduziste-a bichanando, cuidavas que o fogo controlado em frente ao teu sofá jamais se levantaria.
Ali ficaste, imóvel, escutando-lhe o ribombar, por trás de uma  lombada, ainda em couro e carmim.
O teu desafio foi olhado pela natureza com desprezo, e agora lavram línguas pelas paredes e lá fora, carpideiras de mil histórias antigas desabam por ti, numa redundância atmosférica.