segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

o que quer dizer "ter os alunos sob controlo"?



A pergunta foi feita perante uma plateia de professores, uma linha imaginária separaria aqueles que responderiam sim daqueles que responderiam não.
Saltei para o lado do não. A coisa ficou a moer por dentro mas assumi a escolha.
Tenho os meus alunos sob controlo, sim ou não?
Não, jamais, nem pensar.
A ideia de ter alguém sob controlo adoece-me, saltam-me imagens de mãos por dentro do cérebro a remexerem sem pudor, fios, marionetas e amestramentos.
Um professor deve ter a sua aula sob controlo, e não os seus alunos. Ter uma aula sob controlo implica ter um planeamento mas saber incorporar a ruptura, reconhecer que onde existam pessoas existe caos, um caos que à distância pode até possuir a aparência tranquila e bela beleza semelhante aquela que um céu estrelado nos oferece, numa noite cristalina, mas sem esquecer que para lá da aparente tranquilidade, existe destruição, explosões, mortes, brilhos ofuscantes e ruído. Não quer isto dizer que defenda a ausência de normas, as normas promovem um relacionamento civilizado entre seres humanos, evitando o confronto permanente.
Daí até à presunção de ter os alunos controlados vai um longo caminho, cada aluno/a é um universo, e não o digo como corolário embelezador, na verdade um universo é algo igualmente belo e angustiante, é nesta dualidade que inscrevo a minha afirmação. Não, eu não tenho nada sob controlo, as particulas atómicas explodem sem o meu consentimento e isso não me preocupa, certos dias exaspera-me, noutros espanta-me.

2 comentários:

  1. Não tem os alunos sob controlo mas ensina-lhes normas, as normas fundamentais à vida em sociedade, inclusivamente à vida entre pares.
    O bullying na escola é uma realidade dramática, uma realidade com consequências para a vítima muitas vezes irreparáveis.
    Uma docente minha amiga, no passado ano lectivo, foi agredida por uma criança de 7 anos, repito, 7 anos. O que fazer numa situação destas?
    Compreendo a sua relutância em aceitar o conceito, se é que se pode classificar deste modo, do controlo, mas - se me permite a questão, resultante provavelmente do facto de a minha actividade nada ter a ver com a docência -, interrogo-me sobre se a grande maioria dos professores conseguirão impor normas se não tiverem algum controlo sob os alunos.
    Afinal, e em síntese, onde fica a fronteira? Estabelecer normas, não é, de alguma forma, exercer controlo?
    Cada aluno é um universo, sem dúvida. Educar muitos desses universos é que é problemático.
    E o papel dos encarregados de educação? E que normas, valores, ética, têm muitos deles para transmitir às suas crianças?

    Problema complexo, este, sem dúvida.

    Abraço

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  2. As suas questões são pertinentes, e certeiras,as fronteiras são complicadas, entre a manutenção de um ambiente de disponibilidade física e mental para trabalhar e a imposição de normas desajustadas, confesso que são áreas sensíveis e sobre as quais tento ir reflectindo.
    E desembocamos nos encarregados de educação, e então como agir perante crianças cujos encarregados são estruturalmente oponentes da escola, por questões culturais, por questões sociais, por n questões?
    É muito bonita a retórica sobre a colaboração entre a escola e a família, sendo que na lei, é a escola que colabora com a família na tarefa de educar as crianças, mas na verdade este discurso raras vezes migra do papela para a prática. Bom Dia e Obrigada pelo seu comentário.

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