quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

E quando me contar, hei-de fazê-lo ao contrário.

E quando me contar hei-de fazê-lo ao contrário.




          E, aquele
          que não morou nunca em seus próprios abismos
Nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas
Não foi marcado. Não será exposto
Às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema.
Manoel de Barros





Narro-me de trás p'rá frente, e não é uma metáfora, é ilustrativo.Foram precisas décadas para descer ao poço.Na superfície, deixei-me gazela sacrificial degolada.No fundo do meu poço estava o meu nome e um punhado de pessoas que comigo o partilhavam.E um dia, depois de ter filhos, tive irmãos, muitos e maiores do que eu, e a frátria que me era uma terra desconhecida, passou a ser uma terra quente mesmo  mantendo a distância, nasceram-me oito irmãos como num trangolomangolo ao contrário.E nasceu-me um pai morto e morreram alguns vivos que antes tinham nome e o perderam.E o tempo perdeu a linha e elipsou-se numa verdade desprovida de verosimilhança, e desde então procuro rectas que nunca o foram e perco-me em galerias ascendentes e descendentes, o tempo que não tinha começado até há alguns anos, aguarda agora um desfecho para se sincronizar com o tempo contado nos relógios e nos calendários.(http://www.youtube.com/watch?v=dTADU0iMnF4)


4 comentários:

  1. Excelente!
    Quando avançamos rumo ao passado encontramos o que podíamos ter evitado.

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    Respostas
    1. Evitar o passado não está ao alcance de quem nele não agiu.
      Obrigada por regressar.
      Boa Semana.

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  2. A descida nunca é solitária, nem inócua, e muito menos inofensiva.
    Acompanham-nos sombras, vazios, amanhãs transfigurados em ontens.
    A gazela cumpriu-se.

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