segunda-feira, 6 de abril de 2015

A indiferença à dor.



A indiferença à dor.

Sou de sobressaltos mediterrânicos com ecos de cigana, cheiro a mangericão e lamentos mortais de finais de ópera.
Se guardasse uma faca na liga haveria de a brandir qual fadista imaginária.
Da tempestade do meu nome conheço um tumulto de mar encapelado sem promessa de bonança.
Mas a idade, o cansaço, e as lutas perdidas estão a deixar-me numa apatia de paquiderme e parasita.
A dor não alimenta a raiva por muito tempo, ao fim de alguns golpes o corpo endurece e a alma fecha-se,  silenciados os ais sobram tempos lentos e graves. Cuidei que este fosse o tempo da pacificação, desejei esta transformação como quem espera pelo sol. Um cabelo que se acinzenta numa alma que se aquieta.

https://www.youtube.com/watch?v=01Q8o4X0MKY
John Everett Millais

2 comentários:

  1. Assim deve ser, aquietarmo-nos ainda que num apaziguamento dorido. Difícil, não impossível.

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    1. Resta saber se é uma desistência ou uma aceitação.
      Bom dia.

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