terça-feira, 23 de julho de 2013

Somos dezenas, centenas, milhares, milhões.






Dizem que  a beleza supera as raivas, mas nem a beleza domina as fúrias.
As Danaides pararam e recusam-se a carregar água.
Alecto apoderou-se dos meus passos e já só me restam as mais abjectas vísceras, disponho-as sobre a mesa por escassearem as iguarias.
Nas costas, restos de punhais, nas mãos, vento em remoinhos, no peito o silêncio num esconjuro que em breve se animará numa vaga.
Somos dezenas, centenas, milhares, milhões.
Já ponderámos e arrepende-mo-nos, já cedemos e ainda assim suplicamos a sobrevivência, já ofertámos a nossa nuca em gestos sacrificiais e a nossa morte não aplacou os deuses.
Somos dezenas, centenas, milhares, milhões.
Ainda sem fome mas já sem alimento
Ainda sem frio mas já sem casa
Ainda com o dia de hoje mas já sem futuros.
Aos nossos filhos serviremos a descrença em gotas ou em golfadas conforme os dias, aos nossos pais dedicaremos os nossos fracassos com dor e com sangue, aos que jogam com as nossas vidas soltaremos a memória de Tisífone até que por fim, quase sem vida, compreendam que a dor não se oferece.
E quem prefere verdes prados, resta-me falar do sangue que de flores não me convém

http://www.youtube.com/watch?v=RHhcsL-3WjE





















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