domingo, 16 de junho de 2013

Senhora das horas. Jeff Buckley - Calling you






-Foi ontem. Tenho disso uma certeza absoluta.
- Ah sim? e como se apercebeu?
- O gato voltou a entrar pela portinhola da cozinha e saltou para a cama, deviam ser uma cinco ou seis da manhã.
- E não é habitual o gato fazer isso?
- É, é habitual, o que não é habitual é eu estar a dormir quando isso acontece.
- Tem dificuldades em adormecer, portanto.
- Não, não é bem isso, tenho dificuldades em manter o sono. Adormeço com relativa facilidade. Mas qualquer pequeno ruído me desperta e a partir daí começa o dia.
-Começa o dia?
- Sim, ou melhor, começo o dia, saio da cama pé ante pé, e depois tomo conta das horas, sabe a partir do nascer do sol elas tornam-se mais rebeldes.
- Elas?
- As horas senhor agente, as horas, gosto especialmente daquelas horas antes do abominável chilrear dos pássaros. Estão ali, ao meu inteiro dispor, sem nada que as ameace.
- E o seu marido? o seu marido sabe do seu problema com o sono?
- Talvez, agora já não lhe vamos perguntar, seria insensível da nossa parte.
- Mas ele nunca  tinha acordado quando a senhora se levantava, durante a noite?
- Não senhor agente, foi a primeira vez que ele me fez tamanha provocação, mas eu mostrei-lhe que não voltaria a tolerar semelhante invasão.

( o gato não voltou a entrar pela portinhola da cozinha)



5 comentários:

  1. Respostas
    1. Não sei, apanhei a história já depois do genérico inicial.

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  2. Brilhante!
    (Se bem entendo o Jeff Buckley será um "gato", mas isso é matéria que me escapa e na qual "passo"...)

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  3. O Jeff Bucley foi... já não é, apenas memória.
    Obrigada.

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  4. Lamento a morte as circunstancias e o meu desconhecimento.

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