domingo, 3 de março de 2013

E agora? Agora o que acontece? Patrick Watson - Big Bird in a Small Cage





Há um tempo que acontece nos primeiros dias das paixões, o dia seguinte ao primeiro beijo.
Hoje é esse dia, o dia em que não sabemos se foi fugaz ou se vai ser um começo.
Ontem, como pássaros engaiolados, cantámos uma canção, triste, desalentada, lacrimosa.
Não havia no ar o sentido de festa que se sentiu a 15 de Setembro, os nós na garganta soltaram-se desgarrados.
Não houve vandalismo, e digamos que aquelas lojas de griffe que acompanham a descida da Av. liberdade, são apelativas sob esse prisma.
Caminhei grande parte do tempo silenciosa, os lamentos já não estão cobertos pela vergonha pequeno-burguesa, estão a céu aberto como esgotos que não encontram rio ou mar para desaguarem.
Avós que viram as pensões cortadas e que já não conseguem ajudar netos que perderam o seu emprego.
Homens e mulheres que deixaram de fazer sentido para si próprios porque se estruturaram a partir da função laboral que exerciam.
Jovens que talvez não ousem sonhar.
E alguém me fala no PREC, nas ruas do tempo do Prec.
Na verdade, nesse tempo, havia um mar de expectativas por cumprir, um país por abrir, um horizonte imenso, hoje, há uma gaiola apertada e fora dela uma morte anunciada.
Ninguém quer ser responsável por terminar este tempo, mesmo que este tempo seja um tempo de mortos, ninguém quer assumir o fim do sistema, essa assunção pressupõe a coragem para mergulhar no desconhecido.
Falo com amigos e a pergunta repete-se:
- Então e agora? O que é que vai acontecer?
Agora veremos se foi um arrobo numa tarde solarenga ou se a balada se transforma num romance, vão ser necessários escritores com fôlego dostoievsyano, isto agora não vai lá com pequenas narrativas.

2 comentários:

  1. Por ora, perguntamos e agora?
    Mas há-de chegar a hora!

    :)

    ResponderEliminar
  2. Só não sabemos que hora será essa? nem a que horas será hora.
    Talvez já passe da hora.

    ResponderEliminar