sábado, 22 de dezembro de 2012
Para falar com crianças é sempre melhor inventar algumas palavrasThe King of China's Daughter
Fico muitas vezes a pensar em coisas que me perguntam. ESpecialmente por me sentir destituída de respostas. Construí-me como uma colecção de perguntas, e nunca um manual de instruções.
Ontem, alguém me perguntou acerca da pertinência artística de trabalhar com uma música muito conhecida, um daqueles sucessos virais, que todos os miúdos conhecem, que como tal poderia ser um ponto de partida para estabelecer um diálogo.
Inicialmente julguei que se tratava de uma provocação jocosa, mas rapidamente compreendi que se tratava de uma questão genuína.
Como sou bruta e destemperada, disse de imediato o que pensava, a quente, sem cuidado e sem filtro.
As crianças, sejam elas de que cultura, religião, nível sócioeconómico forem, precisam ser alimentadas com objectos elevados, precisam comer beleza e harmonia, mesmo vivendo entre o feio e a monstruosidade, essa é a verdadeira função de quem educa, ide ler Platão, o livro VII da República!
O diálogo entre educador e criança deve ser propiciador da criação de um espaço para as palavras inventadas, um espaço para recriar o léxico, um dicionário privado, um código que permita o explorar de sons e conceitos que a criança ainda não ousara antes.
Sustentar a ideia de que o diálogo proficuo é aquele em que o lèxico é limitado à partida, pelas fragilidades de um dos interlocutores, corresponde a uma visão redutora do poder do diálogo. Configura uma depreciação das capacidades de aprendizagem de algumas crianças, é um pensamento descriminatório camuflado do seu oposto, condiciona expectativas e limita possibilidades.
APrender é como saborear, o paladar aguça-se com a variedade, a persistência das provas e qualidade dos ingredientes.
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