terça-feira, 11 de setembro de 2012

A minha geração é 'Cheap and Cheerful'

Chegados ao final da primeira década de um novo milénio, assumimos a devastação, a erosão e a fragmentação, lastros inevitáveis da conjugação entre o marxismo e o capitalismo liberal irregulado. Convém compreender que as guerras geram conservadores. Esta será uma ferramenta importante para interpretarmos o imobilismo ideológico dos últimos 50 anos na Europa. Habitua-mo-nos a olhar o mundo a partir de direitos garantidos, a lógica do wellbeing,wellfare,welliving, corresponde a esta ideia original do mundo ocidental, pós 2ª Guerra Mundial, de que a justiça social é o garante da acalmia, da ausência visível de conflitos. A minha geração é intrinsecamente conservadora, pretendeu limitar-se a gozar a herança, sendo esta herança composta pela paz, a liberdade de expressão, o conforto material, a pluralidade, o direito a , o direito a, o direito a, o direito a nada. Pois é, mas o capital soube compreender e aproveitar. Somos pasto tranquilo, ovelhas mansas, ceia de abutres ( somos devorados porque nos comportamos como mortos). A massa criativa é self-driven, bom precisa de atenção, de muita atenção, é carente de olhares ( e não me interessa nada ir ao Senhor Segismundo para saber porquês e outras inutilidades), assim sendo a sua intenção produtiva não depende de gatilhos exteriores, e é aqui que o senhor Arjo Klamer, um economista holandês, que já leccionou em várias universidades e que tem vários trabalhos sobre o valor das obras de arte perante a proliferação de suportes ( a desafectação do valor real e material versus a valorização subjectiva), vem declarar que nos comportamos como reles e alegres ( cheap and cheerful) A questão que se coloca nos dias de hoje à produção criativa não é a produção em si mas essencialmente aquilo que distancia artistas e potenciais públicos, e a questão da exibição, distribuição, ou seja a capacidade de penetrar no mercado. A proliferação de festivais, encontros, mostras cria eventos repetidos e com objectivos semelhantes, mas cada um tem como alvo um núcleo duro e raras vezes alarga o seu público, ao contrário do que seria de esperar, esta imensidão de acontecimentos não é um sinal de vitalidade é antes um sinal da existência na cultura, como no futebol, de várias ligas, o braço armado da indústria a criar tampões aos independentes, escudos em forma festiva. Imagino que esta ideia seja chocante, quer para quem se envolve nestes acontecimentos quer para quem acha que eles são um símbolo da miríade de opções estéticas da contemporaneidade.Não são, representam a exibição pública da condição de escravos a que nos remetemos. Os escravos devem ser mantidos no limiar da sobrevivência, entre o pão e o circo, para que jamais ousem questionar a sua condição. Estamos entretidos a matar as nossas fomes e enquanto isso ausenta-mo-nos da arena, e a arena é a coisa pública, a praça, o poder. Somos os escravos ideais, produzimos, contenta-mo-nos e não destruímos. Para nos emanciparmos teremos que resolver as, nossas necessidades de partilha e aceitação, suspender a motivação interior e lutar contra o nosso conservadorismo. Se não queremos ficar para a história como os "Cheap and cheerful" teremos que convocar as fúrias e desmanchar o palanque. Reinventar ágoras e assaltar castelos.

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