sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Dois mil anos a renegar o corpo e a venerar uma amputação ficcional.

Vi esta notícia Papiro cita Jesus a falar da sua mulher - Ciências - PUBLICO.PT
já há alguns dias mas demorei a processar o que ela conteria de perturbador. Cristo foi homem, foi tão verdadeiramente homem que pode até ter casado e ter sido Pai. Esta verdade aproxima Cristo da humanidade. Já o sabíamos filho, agora descobri-mo-lo Pai e homem. Este plano parece pacífico. Num momento de profunda crise, aproximar Deus dos sofrimentos humanos poderia ajudar a dar sentido à dor de muitos homens, pais, que se sentem impotentes perante um cataclismo para o qual não foram educados nem têm ferramentas(dentro dos sistemas lógicos existentes) para o ultrapassar. Mas, depois de dois dias a digerir a ideia sem repulsa alguma, começo a olhar para as sombras. A verdadeira questão não é saber se cristo teve ou não teve mulher e filhos, não se trata de escavar o lado privado de uma figura pública e denunciá-lo perante milhões de adoradores. A questão principal é encarar uma civilização que se estruturou glorificando a abstinência, diabolizando e subalternizando o amor físico e que agora terá que se compreender integrando esta possibilidade da experiência física do amor entre Cristo e uma mulher. A humanidade de Cristo traduzida pela unidade entre corpo e alma e não o apelo à amputação do corpo como se esta amputação fosse a única possibilidade de caminho e salvação. As marcas desta narrativa são profundas e transportam a semente de muitas perversões, praticadas por homens ao serviço de uma igreja que lhes impôs um celibato que teria origem na própria vivência de Cristo. Esta notícia liberta o amor físico da sombra e transporta-o para a luz. Simultâneamente cobre de breu uma igreja que ao não escutar a voz do corpo promoveu gemidos de horror destruindo vidas, nomeadamente de muitas crianças abusadas. O suposto casamento e a paternidade de Cristo impõem uma revisão das premissas de toda uma cultura para a qual o corpo foi visto como a zona sombria da existência.

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